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Não reclame de barriga cheia

by Luciana Demichelli

Você já reparou no quanto a gente reclama?
Se está frio, a gente quer o calor. Se está calor, o frio.
Quando tem cabelo liso, quer o crespo.
Se no jantar tem sopa, a gente quer macarrão… e quando tem o macarrão, a gente pensa no churrasco.
E assim a gente vive numa constante insatisfação. Inconsciente, mas sem gratidão.

reclamando de barriga cheia

Apreciar o que se tem é uma das maiores virtudes da vida. Quando a gente sabe apreciar, a vida fica mais fácil, mais leve. Essa é a minha meta para 2016. Está lá, no espelho do banheiro tatuado com baton: apreciar o que se tem.

Reclamando de barriga cheia

Em 2006 fui para Angola a trabalho. Nunca tinha visto tanta alegria, em meio a tanta pobreza. Um menino veio sorrindo me contar que agora ele tinha água em casa. Repito: água. A mesma água que a gente tem todos os dias, sem dar a menor importância para ela. Essa palavrinha de duas sílabas foi capaz de fazer brotar um dos maiores sorrisos que eu já vi.

Reclamando de barriga cheia

Talvez por coincidência, ou não, me lembrei agora de uma garotinha que conheci chamada Quenia. Apesar do nome, ela não nasceu na África, mas mantém na vida a mesma gratidão que os meninos de Angola. A Quenia é filha da cozinheira de um hotel em Bragança Paulista, no interior de São Paulo. Aquela menina franzina, com 6 anos de vida, me deu uma das maiores lições de gratidão. Era época de Natal e ela queria me mostrar o presente que ganhou. Atrás da casa onde a Quenia morava, tinha um pequeno pinheirinho plantado. E ela, com um sorriso nos lábios, me disse que tinha tudo. “Esse pinheirinho vai crescer comigo”, ela disse. Uma arvorezinha… e tamanha gratidão!

Reclamando de barriga cheia

Eu, ainda perturbada com a lição, olhei para os pés dela e vi que a menina usava um chinelinho com a cara do Mickey Mouse. Na minha ignorância do que é ter “tudo”, elogiei o chinelo do Mickey. E eis que a sábia menina me dá outra lição: “Não sei quem é esse Mickey, só sei que esse chinelinho aqui não é dele, é meu!”

P.S. – Hoje a Quenia deve estar com uns 20 anos e o pinheirinho – assim espero – maior do que a casa.

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