Você pode conhecer a Europa toda, a Ásia, a América do Norte, mas se você nunca foi para Varpa… ah, meu amigo, você sabe menos do que eu.
A Varpa fica ali perto de São Paulo. Na verdade, é só andar um pouquinho, descansar um pouquinho e seguir por mais 600 quilômetros.
A Varpa fica nas redondezas da cidade onde eu nasci.
Quando eu era menina minha maior vontade era sair de lá, ir morar na capital.
Eu queria viver, queria ser feliz e, sinceramente, eu achava que a felicidade não morava perto da Varpa.
A Varpa tinha duas ruas, uma igreja e muitas casinhas com cadeiras na calçada. Os imigrantes que vieram da Letônia viviam por lá, em comunidade. Na casa da dona Neuza a gente parava para pegar mel e geléia de laranja, daquelas feitas no dia, com a fruta tirada do pé. Na casa do seu Tião tinha linguiçinha defumada e queijo de cabra. Pão caseiro era com o seu Ramires, algumas casas mais abaixo. E depois de percorrer as duas ruas da cidade, a gente ia até a cachoeira se molhar.
Mas meu conceito de felicidade era a cidade grande. Na Varpa não tinha semáforo, não tinha FM para tocar no rádio, não tinha prédio. Eu queria ir para São Paulo comer queijo brie.
Queria o trânsito, a correria, queria ver o metrô.
Dia desses voltei para Varpa. Vi a casa da dona Neuza, a igreja, as duas ruas centrais… tudo continua quase igual. O progresso não transformou a Varpa, mas alguma coisa mudou em mim. Hoje eu vejo que a felicidade – durante todos esses anos – também estava ali… na prosa, nas cadeiras coloridas no portão do seu Ramires, no mel, na cachoeira, no cheiro da linguiça caseira… e na sabedoria desse povo que, contando estrelas, teve tempo para ver a vida passar.