Fizemos várias reportagens juntos. Foi o Tieppo quem acreditou na minha loucura de misturar Carlos Drummond com futebol, no centenário do poeta. Juntos trouxemos Drummond para o campo. Futebol e poesia no Globo Esporte.
Marcelo Tieppo não frequentava minha casa, mas foi testemunha do meu casamento. Somos amigos de redação e temos uma relação que não se explica.
Trabalhamos juntos até 2003, depois disso nunca mais nos vimos. Marcamos uma pizza quando estive no Brasil da última vez, mas entre a marguerita e portuguesa , não chegamos a nos encontrar.
Sonhei com ele em 2014. Sonhei com uma linda noite de autógrafos. No sonho Tieppo lançava um livro e o sucesso o acompanhava.
Foi tão real, que resolvi escrever para o velho amigo e contar as boas vibrações que senti.
Quase que incrédula, chorei ao ler a resposta que ele me mandou no facebook. Sim, em segredo, Marcelo Tieppo preparava um livro.
Ontem à noite devorei o livro do Tieppo. Como que por compulsão, não consegui parar de ler. Foi como encontrar um diário escondido.
Chorei em várias páginas. Tieppo divide com a gente a rotina do câncer e a vontade de continuar tocando a vida. Ele enfrenta a doença há 5 anos. Embalado pelas músicas dos Beatles, cada capítulo é uma mistura de sentimentos… dele, meu e de quem estiver lendo.
Meu amigo relata várias perdas para o câncer… dos avós, de amigos, da irmã mais nova…
Tieppo me tirou do meu conforto, me sacudiu a quilómetros e quilômetros de distância, me fez ver que O SEMPRE É HOJE.
Indico quantas vezes for preciso… e se preciso for, indico de novo. Tocando a vida, de Marcelo Tieppo.
E ao som dos Beatles – com uma certa licença poética – eu faço minha oração por você, meu amigo: “Mother Mary comes to you!”