Era um papel pardo, tipo papel de pão.
Meu nome aparecia em letra de forma e o selo de postagem tinha o registro Royal.
Veio por avião.
Direto da Inglaterra para minha caixinha de correio.
Eu tremi na hora de abrir o envelope.
Dentro dele estava uma preciosidade… e eu sabia disso.
Era a trajetória de uma vida inteira ali, naquele pacotinho.
Se não minha história toda, pelo menos uma pontinha dela.
Meu primeiro conto em um livro de verdade.
“Sobre Os Outros”, fala sobre mim, sobre você, sobre tanta gente que saiu de casa e se reinventou em outro país.
Fala de quem chegou sem nem mesmo partir. É uma enciclopédia que define encontros, reencontros e saudade.
O livro é do meu amigo Ernani Lemos.
Foi ele quem me fez o convite e me deu o imenso prazer de contar meu conto.
Está lá, na página 237, um rabisco meu.
O livro fala de pessoas que cruzam o nosso caminho e ficam para sempre nele. Mesmo à distância.
O Ernani cruzou meu caminho pela primeira vez em 98, quando eu fui trabalhar na TV Globo de São Paulo.
Ele era uma criança ainda. Magrinho, miúdo e de sorriso largo.
Era o officeboy que espalhava alegria pela redação inteira.
O tipo de menino que faz amizade por onde passa.
E ele passou por muitos lugares.
O menino cresceu. No exterior foi morar.
Decidiu colecionar experiências.
De officeboy na Praça Marechal à chefe da Globo em Londres.
Dono de uma sensibilidade única, se apoderou das palavras para nos dar inúmeras lições de vida.
O menino virou escritor… só para nos encher de orgulho.
Esse é o segundo livro dele. o Primeiro, “Onze Semanas” já está na Bienal.
Tenho certeza que esse será o endereço permanente do Ernani.
“Sobre Os Outros” tem um pouco de tudo, tem muito de cada um de nós.