Acho que eu nasci em um dia de chuva. Minha relação com ela é de sempre e para sempre. Uma herança. Meu pai gostava de chuva… me deixava lambuzar os pés na enxurrada. Talvez por isso sempre me recusei a usar um guarda-chuva.
Gosto do cheiro e do toque da chuva.
A chuva quase me complicou na terceira-série da escola. Meu desenho de uma nuvem escura, carregada de pinguinhos, foi encarado como “anormal” para representar um dia perfeito. Acontece que chover, para mim, sempre foi perfeito!
Eu gostava de ir para escola sem galocha, sem capa… gostava de olhar pelo vitrô e ver cada pingo se transformar em peixe. Na minha imaginação era assim que funcionava.
E, de repente, eu tinha um oceano que me levava da classe da professora Ester para o mundo.
Quando eu comecei a trabalhar como locutora na rádio, aos 17 anos, cai na besteira de falar o que os ouvintes queriam ouvir. Na previsão, eu disse que o tempo estava feio, chuvoso.
Naquele dia, como um puxão de orelha, o telefone tocou. Era o Roberto, meu ouvinte mais fiel.
“Se chove é para molhar a terra”, disse ele.
Desde então, nunca mais traí a chuva.
Até hoje o que mais me fascina é a previsão do tempo. A previsão, mesmo que errada, me faz acreditar no recomeço. Assim é na vida. Todas as manhãs olho para o galinho em cima da geladeira.
Hoje ele está um azul tímido, mas sei que vai mudar de cor.
Em apenas um dia, a cada segundo… tudo muda. O tempo é o reflexo da esperança! Por mais escuro que esteja lá fora, amanhã a previsão é de sol.
E, se por acaso a chuva chegar, te convido a ir comigo molhar os pés na enxurrada.