O celular extinguiu o gancho.
Muitos não vão entender, mas tirar o telefone do gancho era se desligar do mundo.
A gente não sabia quem tinha ligado, se tinha ligado, se ia ligar novamente…
O telefone tocava e a casa inteira corria para atender. Podia ser para qualquer um.
Era só um telefone para família toda. Um único telefone para uma casa inteira.
Na minha casa éramos 6. Ai de quem deixasse fora do gancho…
Hoje em dia não tem mais gancho.
Cada um tem seu próprio telefone.
Mais que isso… cada um tem um próprio dono, chamado celular.
Sim, porque o celular está no comando das nossas vidas. E não venha me dizer que não.
Criamos uma dependência física e psicológica do celular. A gente não consegue sair de casa sem ele.
Pior, não consegue almoçar sem o celular.
A gente corre com o celular, faz ginástica com o celular, dorme com o celular, dirige com o celular, vai ao cinema com celular…
A gente ignora regras e leis em nome do celular.
Eu tinha um chefe que quando ia ao banheiro, levava o celular. Até aí tudo bem. O negócio é que ele me ligava do banheiro para falar de trabalho. Aí, ficava aquele eco característico, um barulho enlatado de azulejo, que denuncia tudo.
Para falar a verdade, as minhas visitas ao banheiro também ficaram mais frequentes e demoradas nessa era pós-celular..
Eu confesso que, vez ou outra, invento uma dor de barriga. Quem tem criança em casa sabe bem o que eu estou falando. A dor de barriga é praticamente uma desculpa para ficar um pouco sozinha. Lá, quietinha, você pode ver Facebook, Instagram, Whatsapp… e, se tiver um tempo, dependendo da intensidade da dor, ainda dá uma espiadinha no Snapchat.
É como eu sempre digo: celular, hoje em dia, é um amigo íntimo.