Como podemos, em tão pouco tempo, depender tanto da “nuvem”? Ela não existia em um passado recente. Chegou e se apresentou como nova guardiã da nossa vida. Tudo o que você tem, o que você sabe, o que você pensa… vai para a nuvem e fica lá.
Eu, particularmente, sofro com isso. Não com a dependência, mas com o meu céu particular.
Seria bom olhar para o computador e ver, na tela, uma única nuvem.
O que eu vejo no meu não é entendido nem pelo melhor dos meteorologistas tecnológicos do mundo. São muitas nuvens. Tanta nuvem que não daria para ver o Sol, caso ele também morasse no meu computador. Está tudo completamente nublado.
Tem iCloud, Dropbox, Google Docs, Evernotes… e por aí vai.
Aí, tempos atrás, eu e a Lu começamos a escrever um livro. A correria do dia-a-dia jogou as primeiras – várias – histórias para a nuvem. E agora, perto de uma da madrugada, olho para o meu céu e não encontro a nuvem do livro de jeito nenhum.
Já deve fazer umas duas horas que estou voando de nuvem em nuvem. Encontrei senhas que não sei de onde são, número de telefone sem dono e recados para mim mesmo. Tem a palavra “importante” escrita umas 3 vezes, sempre acompanhada do “não esquecer”. E, claro, não tenho ideia do que já esqueci. Se era alguma coisa com você, que está lendo o texto, desculpa, foi mal.
Agora, nesse exato momento, penso em uma maneira de evitar uma merecida bronca da Lu quando eu disser que o que escrevemos foi perdido. Na verdade, não “foi” perdido, “está” perdido. Está na nuvem. Guardado e seguro. Ninguém tem acesso. Nem eu.
Vou ter que arrumar um tempo para reescrever essa parte do nosso livro. A memória, aquela que não lembra a nuvem, vai ter que lembrar as palavras.
O livro é sobre “As Maiores C… da TV Brasileira”. Prometo que, em breve, escrevo outro texto para falar um pouco mais sobre esse projeto.
Hiroshima foi um traque perto da bomba que vem por aí.