O abraço é uma das maiores demonstrações de um sentimento.
Um sentimento, não. Vários!
O abraço é válido nos extremos.
Vale para o gol e para o pênalti perdido.
Vale para o nascimento e para a morte.
Vale para quem não passou no vestibular e para a formatura.
Vale para a chegada e para a despedida.
Você abraça sorrindo e chorando.
Tenho duas histórias legais em relação aos abraços.
Meu filho, logo que entrou na escola, abraçava as outras crianças da classe.
O que no Brasil é a coisa mais comum do mundo, aqui nos EUA é visto de uma maneira meio diferente. A diretora da pequena escola veio conversar com a gente e pediu para falar para que ele evitasse esse contato físico. Nós explicamos que era da nossa cultura e que não faríamos isso. Foi quando descobrimos o motivo da preocupação da diretora.
O abraço contagia.
As crianças começaram a se abraçar todas as manhãs.
E, um dia, os pais começaram a se abraçar do nada.
Na “formaturinha” do meu filho, a diretora nos deu um abraço. Longo e apertado.
Chorando, ela falou que sentiria falta dele.
Acho que, quase bebê, ele conseguiu ensinar alguma coisa para aquela diretora.
A outra história foi no Japão, na Copa do Mundo de 2002.
Eu e o repórter cinematográfico Zé Henrique tínhamos um tradutor, o Ricardo.
Era um brasileiro que estava do outro lado do mundo há muito tempo.
Ele ficava extremamente incomodado quando tocávamos nele.
Sabe quanto a gente abraça uma pessoa e caminha conversando com ela.
Para o Ricardo era a morte.
Como “japonês”, educado, ele não falava, mas não conseguia esconder o desconforto.
Como brasileiros, eu e o Zé Henrique só andávamos abraçados com o Ricardo.
No dia da volta para o Brasil resolvi respeitar a cultura do Japão.
Me despedi e no lugar do abraço só baixei minha cabeça.
Virei as costas.
Nesse momento o Ricardo me chamou, me deu um abraço e começou a chorar:
César, obrigado por ter me lembrado de algo tão importante, que eu tinha perdido com o tempo. Essa demonstração de carinho.
Três anos depois, voltei ao Japão com a Lu e encontramos o Ricardo em Narita. Ele estava com as filhas, bem pequenas na época. Nos aproximamos e ele, antes de qualquer coisa, disse para a mais velha:
Filha, vai lá e mostra o que eu falei que o tio César ensinou para o papai.
Ela veio e me abraçou apertado.
Eu choro até hoje quando conto essa história.
Ela já deve ter esquecido isso, mas eu vou me lembrar daquele abraço para sempre.