Ah como eu admiro aquela mulher de terno bem cortado, salto 7 e meio e cabelo escovado.
A executiva que cuida da própria conta bancária. Independente, inteligente, bem humorada.
Admiro tanto quanto aquela outra mulher de sandália rasteira e cabelo recém lavado. A dona de casa que cuida dos filhos, da casa, dá conta… de tudo.
Às vezes a gente entra numa discussão boba, sem destino algum.
A gente discute por quem decidiu casar, discute por quem decidiu não ter filhos. Acha errado fulana estar solteira… ou um absurdo ela ter se separado…
A gente mete a colher, sem saber fazer o doce.
Eu acho que ela está certa de ficar em casa, vai ver todos os passos dos filhos. Mas daí, quando ela decide dar o próprio passo, pronto: a casa cai.
A gente fica se justificando para o mundo – pelo mundo – nas redes sociais. A gente se justifica, mesmo achando que nossa decisão é a melhor de todas.
SIM eu decidi trabalhar fora ou NÃO eu decidi ficar em casa.
E de repente vem aquela cara feia de quem pensou diferente de nós. Sim, porque sempre tem a cara feia.
Eu invejo aquela mulher que sabe os números da bolsa de valores tanto quanto aquela que decorou a tabuada do 7 só para ajudar no teste do filho na escola.
No fundo todo mundo queria ser a mulher que não precisa fazer o almoço, que come em bons restaurantes, durante as reuniões de trabalho.
E mais no fundo ainda todo mundo queria ser a mulher que refoga a abobrinha, sabe fazer o feijão, nunca queimou o arroz e ainda prepara um bolo de fubá no final da tarde.
Ah… que inveja da mãe que pega na escola, que chama a professora pelo apelido, que lava a roupa do filho e conhece o cheiro de todos os amaciantes.
Ah… que inveja da mulher que está sempre bem vestida, que tem a caixa postal lotada de negócios e não receitas.
Tem a que não depende do marido.
Tem a que não depende da empregada.
A que faz o filho dormir…
E a que adormece nos braços do filho.
São dois lados da mesma moeda. Talvez, da mesma mulher.
Às vezes cara, às vezes coroa.
