Carro é muito mais do que um meio de transporte.
A infância, pelo menos no caso dos meninos, tem – tinha, antes do video game – sempre um carro inesquecível. Um carro minúsculo que acelera a imaginação.
Os mais velhos se lembram do Matchbox, o objeto de desejo de 10 entre 10 garotos. O preço era o mesmo de uma Ferrari, pelo menos na nossa jovem percepção. Foi um choque quando, nos Estados Unidos, já adulto, descobri que um super Matchbox custa .99 centavos. Acho que vou começar uma coleção.
Esse carrinho tem uma importância inversamente proporcional ao tamanho e ao preço dele.
Um amigo de longa data, o Estevam, quase chora ao contar que perdeu o leão de um Matchbox Safari em um restaurante de São Paulo. Ele lembra direitinho a data, o local, a mesa em que estava sentado… Isso já faz 40 anos, mas eu tenho certeza que um dia ele vai voltar lá para procurar direito o leãozinho cor de laranja.
Em Campinas, no interior de São Paulo, o carro era o sobrenome dos jovens. Ninguém era conhecido só pelo primeiro nome. O diálogo era mais ou menos assim:
Sabe o Chico?
Que Chico?
O Chico do fusquinha conversível!
Claro que todo mundo sabia quem era o Chico. Era amigo do Kenzo do Chevette Hatch verde e do Risadinha do Voyage azul.
Aí você cresce e o carro vira motivo para julgamento.
Mostra quem você é… para os outros
Tenho uma tia, a Claudia, que poderia ter um carro novo, bonitão.
Ela tem um Palio preto velhinho.
Por isso, é julgada por todos. É julgada pelas filhas, pelos funcionários e, semana passada, foi julgada pelo cara que pedia dinheiro no sinal.
Ele poderia estar roubando, poderia estar matando… mas estava só sendo o juiz no caso da minha tia.
Ele decretou que não deveria perder tempo com aquele carro. O que ele fez?
Pulou o Pálio amassado nos 4 cantos e foi pedir dinheiro para o Toyota brilhante.
Minha tia botou as moedas de volta na carteira e seguiu seu caminho.
Por que ela tem o Palio velhinho?
Porque o carro também leva nossas histórias pra onde a gente vai.
