O indicador aponta para o coração, os braços se cruzam no peito e o indicador aponta para mim.
Sim, isso é uma declaração: eu te amo, na linguagem dos sinais.
Declaração de filho para mãe.
Não, meu filho não tem necessidades especiais. Tem necessidades urgentes.
Ele quer se incluir no “diferente”.
A ideia poderia ter sido minha, mas foi dele.
Ao invés de aprender Mandarim – que seria bom para o futuro dele – meu filho decidiu aprender linguagem dos sinais, que será bom para o futuro de outros.
Ele se inclui, ele se move nessa onda da inclusão social.
O convite veio da professora da escola.
Em dois anos, meu filho – de sangue italiano – fala fluentemente com as mãos.
Ele se sente especial por isso.
A verdade é que a gente sempre espera pela inclusão e esquece de se incluir.
O resultado disso é que, com um gesto e outro, estamos todos aprendendo a linguagem dos sinais em casa.
Hoje minha lição foi ainda maior.
Tenho um amigo que não pode ler. Nasceu de olhos vendados.
Nossa amizade começou há 20 anos, quando ele decidiu saltar de paraquedas.
Eu era repórter e fui testemunha de um sentimento inexplicável… explicado por ele.
Registrei o encontro de um cego com Deus, como ele mesmo definiu.
Ali, sem precisar ver, meu amigo sentiu.
E é por ele que a partir de agora todos os textos do Escritório de Hoje serão também narrados.
Vou narrar, vou me incluir, para que o meu amigo possa ler meus pensamentos.