Hoje fui ao barbeiro.
De repente, do nada, surge a pergunta:
Que shampoo você usa?
Sou tão ligado nisso que, para contar essa história, tive que procurar no Google o jeito certo de escrever shampoo. Sei, claro, que tem mais do que uma marca, mas achei que isso era só na linha feminina do produto.
Falei que não tinha ideia e, na hora, nem lembrava da cor da embalagem.
Eis que, sem se preocupar em ferir letalmente o sentimento de uma pessoa, o barbeiro dispara:
Você deveria usar um shampoo para cabelo branco, que deixasse os fios mais grossos, para adiar a calvicie.
Tenho certeza de que ele só teve coragem de falar isso porque estava armado com uma tesoura.
Cheguei em casa e fui correndo ver que shampoo eu uso. Já esqueci de novo.
A memória fraca deve ser reflexo do cabelo branco.
A idade chegou. Meu corpo já tentou me contar isso algumas vezes, mas eu não dei bola pra ele.
O avançar da idade é um tema que divide sentimentos. Não sei se me preocupo ou se comemoro o fato de ficar mais velho. Acho que todos vivemos esse mesmo drama.
É lindo saber mais, ter mais experiência…
É desesperador olhar para trás e ver o que você não fez…
Prometi para a Georgia e para a Pietra que vou viver até os 293 anos. Para o Arthur e para a Cora, a promessa foi mais ousada. Prometi para eles que eu não vou morrer. Eles falam que é impossível, mas vou provar que não é. Sou teimoso o bastante para isso. Ou seja, ainda tenho muito tempo pela frente.
As pessoas que pintam o cabelo, as que fazem implante, as que usam peruca, as que fazem tratamentos de hormônio… me passam uma visão negativa da “melhor idade”. Se fosse bom, não tentariam disfarçar tanto. Aí, eu vejo meus super-heróis… a maioria deles tem cabelo branco, ou não tem cabelo. Não, não estou falando do Lex Luthor. Estou falando, por exemplo, do meu pai, um “senhorzinho” de cabeça nevada (ele odeia ser chamado de “senhorzinho”. rs…).
Meu pai vai achar que esse texto é molecagem minha. Meus filhos vão achar que é coisa de velho gagá…
A idade depende do ponto de vista.
No meu ponto de vista, sou um garoto, cheio de energia e de cabelo branco.
O corpo dói, mas é a mente que manda a partir de uma certa idade.
O Junior, ex-craque da lateral esquerda, uma vez explicou como era possível continuar jogando tão bem apesar de já estar mais velho:
Quando você é jovem, você corre atrás da bola. Quando você fica mais velho, você conhece melhor o campo… e a bola corre atrás de você.
É isso. Você passa a conhecer os atalhos, você não age mais tão impulsivamente e, o mais importante, você (eu) nunca mais vai voltar naquele imbecil daquele barbeiro.