A Dona Carmela era italiana. Veio de Nápoli.
A senhorinha, de voz mansa e andar tranquilo, foi minha vizinha durante 6 anos.
No jardim dela brotavam as flores mais bonitas que eu já vi.
O jardim era tão bonito, mas tão bonito, que as bromélias floresciam ainda no inverno, antes mesmo da primavera dar a cara.
Tudo o que a Dona Carmela plantava, crescia.
Eu tentei rosa, dama da noite, girassol, astromélia…
Tentei até a maria-sem-vergonha, aquela florzinha colorida que dá em todo lugar, e nada.
Às vezes era água de mais, às vezes de menos…
Toda primavera eu experimentava uma semente nova, mas meu jardim nunca teve o mesmo perfume do da Dona Carmela.
Eu olhava para o lado de cá da cerca e só conseguia enxergar as ervas daninhas. Aí, eu ia p/ janela, admirar o jardim da vizinha.
Às vezes acho que o problema é que a gente fica na janela demais!
E quando se fica demais na janela, se esquece de adubar o terreno, de espalhar a semente, de molhar as flores.
Enquanto a gente fica debruçado no parapeito – preocupado com o outro – o nosso jardim morre.
E não adianta depois perguntar por que não brotou?!
Ciao, Dona Carmela, arrivederci! Tô saindo da janela para regar o meu jardim.