Hoje uma pergunta me intrigou: O que você deixou de ser quando cresceu?
Me lembrei da dona do zoológico… da bailarina… da vendedora de doces…
Na minha lojinha toda criança teria o direito de comer, sem pagar.
O tempo, cruel, levou esses desejos.
Já na sua versão generosa, o tempo foi capaz de armazenar outros sonhos comigo.
Acreditar em Papai Noel, por exemplo. Esse ninguém tira de mim.
É sério. Eu acredito. E não estou falando só no espírito do Natal.
Papai Noel, para mim, sempre existiu.
Papai Noel existe desde quando o tio Luizinho vestia aquela roupa vermelha de veludo em pleno verão.
Tio Luizinho vinha cheio de presentes, de carinho, de bondade.
Eu sabia que era ele. E sabia também que dentro dele, se escondia o Papai Noel.
Vi o Papai Noel diversas vezes.
Era ele quem estava por trás das 100 roupinhas de bebê que minha irmã fez a mão.
Ela fez uma por uma e deu de presente para várias mães desconhecidas.
Vi o Papai Noel usando as roupas dos meus avós.
Disfarçado, ele distribuía comida na frente de casa.
Vi Papai Noel em cada um dos meus amigos, que cozinhavam sopão e aprendiam com os mendigos da cidade.
Foi o próprio Papai Noel quem esteve comigo numa inesquecível noite de Natal.
Era quase hora da ceia e meu pai me chamou para entregar uma cesta básica na periferia.
Entrei no carro sem saber a direção. O GPS, de 30 anos atrás, era nosso coração.
De repente, meu pai estacionou.
A casa era simples. No banco feito de ripas de madeira, uma senhora dava mingau para um menino magrelinho.
Deixamos ali todas as compras de Natal.
Tinha peru, arroz, biscoitos de nata… até Coca-Cola tinha.
Ainda carrego comigo a gratidão que aquela senhora trazia no rosto.
Naquele dia Papai Noel estava em mim. Lindo, generoso, real.
Às vezes eu o chamo de Papai Noel, outras… de Papai do Céu.