Semana passada um furacão passou por aqui. Não na minha cidade, que só teve uma garoa e uma brisa, mas na minha cabeça. Os pensamentos alcançaram umas 175 milhas por hora. Se fossem todos em uma só direção, beleza… o problema é que foram em assuntos variados, o que provoca uma confusão incrível de sentimentos. Foi isso o que aconteceu, o furacão Matthew, esperado e temido, desviou sua rota, mas fez pensar.
Gerou uma infinidade de “por ques”.
Por que, para a mídia, parece que a vida no Haiti vale menos do que a vida nos Estados Unidos? Por que, pelo que vejo na TV, parece que a vida do pobre vale menos do que a vida do rico? Centenas de pessoas (acho que o número passou de mil) morreram no Haiti, mas todos os telejornais pareciam mais preocupados com as placas de trânsito voando no norte da Flórida. Acho que, para passar na TV, é “plasticamente mais bonito”. Jornalistas (alguns brasileiros) falavam do medo e do “nunca vi nada igual”, direto de cidades que não foram atingidas pelo Matthew. Vale exagerar, sem se preocupar com a realidade, para garantir a repercussão daquele boletim. Sim, o furacão também matou por aqui, 10 pessoas.
Outro “por que”:
Por que as pessoas se aproveitam da desgraça para se beneficiar e pensar no próprio umbigo? Teve gente cobrando 100 dólares por janela para colocar aquelas proteções de metal. Isso demora, no máximo, 10 minutos.
Quem paga isso? Pessoas mais velhas, pessoas que não aguentam o peso das placas, pessoas que são exploradas pelo medo.…
Sim, teve gente que ajudou de graça. Por que?
Por que a professora da minha filha falou que “não é bem assim” quando ouviu dela que era “só pedir para o Papai do Céu proteger a gente e levar o furacão para longe”? O furacão foi para longe e agora a minha filha acha que a professora pode não entender tanto de matemática ou inglês, já que não entende nada de fé.
Por que eu não tenho uma chave de fenda em casa? Instalei todas as proteções das janelas usando uma “pazinha de patê”. Quando ficou sabendo disso, o Takeshi me doou uma chave de fenda. Estou pronto para o próximo furacão.
Por que as pessoas se juntam para arrecadar remédios e mandar para o Haiti, mesmo sem conhecer ninguém naquele lugar miserável?
E por que (esse é o que mais me intriga) tanta gente não faz nada?
Não tem nada a ver com o furacão, mas esse vídeo produzido pela Luciana tem a ver com um dos “por ques”!
