Perder o último dente de leite aos 13 anos de idade resultou no primeiro fora da minha vida.
Fiquei sem o dente e ainda por cima sem meu parceiro de quadrilha, que desistiu de dançar comigo justamente por conta da banguela inesperada.
Foi um horror.
Um horror que durou no máximo 5 minutos.
Minha mãe não pensou duas vezes para resolver a situação.
Conversou comigo, enxugou minhas lágrimas e me fez convidar outro amigo para o forró junino.
Foi no diálogo com meus pais que eu superei o meu primeiro rótulo.
Aos 14 anos, durante uma competição de vôlei, o som da torcida ecoava: “vai salsichão, vai salsichão”.
O “salsichão” era eu. Magrela, de perna fina e comprida.
Um tremendo bullying que me faz rir hoje em dia.
Eu não morri por isso. Nem eu, nem os meus amigos que enfrentaram todos os tipos de bullying da época.
Toda turma tinha o “maizena”, o “fundo de garrafa”, o “estrutura”, o “bola”, o “beiçola”, o “girafa” e, no caso da minha turma, a salsichão.
Sobrevivemos. Mais que isso, somos fortes até hoje.
Me permita dizer, mas vejo crianças muito sensíveis hoje em dia.
Outro dia no parque, presenciei um pai muito bravo pois o amiguinho chamou o filho dele de bobão.
Bobão é bullying? Só fiquei quieta porque eu não tinha nada a ver com isso, mas minha vontade era dizer que bobão é o pai do moleque.
Queremos filhos com personalidade, com capacidade de defesa, com habilidade para transformar a dor em riso.
O problema nem sempre está no outro que feriu, muitas vezes está em quem se deixa ferir. Dá para entender?
Às vezes somos vítimas demais, coitadinhos demais, indefesos demais.
Não sou a favor do bullying de forma alguma.
Sou a favor de crianças mais preparadas para enfrentar esse danado. Porque, acredite, ele sempre vai existir.
Repito, não sou a favor do bullying.
Sou a favor de crianças que não tenham medo da voz dos outros, sou a favor de crianças que tenham em casa pais com tempo para o diálogo, para conversa, para o bate papo.
Sou a favor de pais que enxuguem as lágrimas e ensinem a sorrir.