Ele ficava em cima do telhado.
E mesmo sem aparecer, parecia assustador.
Foi meu primeiro medo na vida, o tal do Bicho Papão.
Depois dele, vieram outros.
Dei trabalho para dormir quando, na escola, começaram com a história da loira do banheiro.
Era só apagar a luz, que o medo vinha.
Chegava de fininho, acelerava meu coração, dava um nó no meu estômago e só ia embora quando os meus sonhos o expulsavam de lá.
Era minha técnica para acabar com o medo.
Eu fechava os olhos e me imaginava em cima do telhado derrubando o Bicho Papão.
Sempre funcionava!
Às vezes me pergunto se a gente nasce com medo ou se desenvolve esse sentimento com o tempo.
Meu medo de cobra deve ser hereditário. De pai para filha. Eu cresci com esse pavor.
Já meus filhos revelam que a genética não tem nada com isso.
Querem chegar mais perto para ver se a cobra tem manchas pelo corpo.
Acho que existem os medos reais e os imaginários.
Alguns fazem a gente até chorar de tanto medo.
A gente tem medo do desconhecido e do conhecido também.
Medo de altura, de trovão, de mudança, de errar, de morrer, de falhar, da violência, da novidade, da escuridão, medo de ficar só.
Às vezes ele aparece querendo comandar tudo, mas eu nem dou ouvidos. Finjo que não o vejo.
Meu grande medo na vida é ter medo. Não gosto nem de pensar.
E também não gosto quando ele atrapalha meus planos.
Por medo, às vezes, a gente não tenta… a gente não faz.
Por isso, eu decidi enfrentar esse sentimento.
Acho que conviver com ele pode ser uma boa solução para conhecê-lo melhor.
E assim, quando o medo aparece, eu uso minha técnica de criança até hoje.
É só fechar os olhos, subir no telhado e dar lugar aos sonhos.
Você vai ver que o Bicho Papão não é tão assustador assim…
Grande é apenas a sua sombra.