Pílulas de saudade

Eu sempre tive uma preocupação muito grande em construir as memórias dos meus filhos.
Me preocupo com o passado que eles terão no futuro. Quero que tenham lembranças com sabor de infância. Gosto de suco de groselha, tubaína, pão de queijo, de goiaba arrancada do pé.

Por isso, uma tarde por semana eu arregaço as mangas e asso um bolo no velho forninho da cozinha. O aroma da baunilha invade a casa e entra direto no cérebro deles. Fica lá registrado para o dia que precisarem. Alimentar a memória sempre foi minha receita predileta.

Natal é uma dessas épocas do ano que eu faço questão de aguçar ainda mais as memórias dos meus filhos.
Há uns 5 anos, comprei uma camiseta de Papai Noel para cada um da família. Devidamente bem vestidos, contamos nos dedos o dia de Dezembro chegar. É como se quiséssemos acelerar ainda mais o sempre apressado tempo.

Na última semana de Novembro, as luzes já piscam do lado de fora e um gorro de veludo vermelho brilha na ponta da nossa árvore, como se uma estrela habitasse dentro dele. O gostinho da reunião em família para decidir o lugar de cada enfeite, também está no nosso calendário. Mas é preciso cuidado, algumas bolas são tão fininhas que se quebram só de olhar.
Logo no primeiro dia de Dezembro, enrolados em cobertores, nos amontoamos para assistir a maratona de filmes natalinos agendada para aquele mês. Nessa época do ano, nossa sala vira cinema! Colocamos os colchões no chão, ligamos a televisão e o barulhinho da pipoca no microondas vai entrando… entrando de devagarinho na gaveta das lembranças.
Lentamente, eu planto pequenas memórias no coração dos meus filhos.
Sem querer para eles – e querendo muito da minha parte – virou tradição na nossa família.
É o que eu chamo de “pílulas para memória”, que serão poderosas em um dia ainda distante.
Pílulas para serem tomadas em altas doses – e sem moderação – nos futuros dias de extrema saudade de um passado ainda presente!