A pergunta foi feita por um grande amigo. Amigo das antigas. Essa é uma daquelas amizades que colecionam momentos inesquecíveis. Eu estava lá, quando ele tocou bateria com o filho pela primeira vez. Só não vi a música inteira porque as lágrimas teimaram em pular dos olhos e atrapalharam um pouco. Também vibrei na vitória suada conquistada no saibro. Acho que nunca torci tanto em um jogo de tênis.
– Posso te chamar de amigo?
Quando ele me perguntou isso, quase enlouqueci. O que eu fiz pra colocar em dúvida essa amizade de mais de 30 anos? Pensei, refleti e… errei. Sem querer, mas errei. Fui traído pelas redes sociais.
Sempre ouvi falar muito bem desse colega de profissão. Eu trabalhava em São Paulo e ele no Rio. Raramente falávamos. Quando isso acontecia, por telefone, era por 30 segundos e para resolver algum assunto profissional. O tempo passou, me mudei e, um dia, nos reencontramos em uma rede social. Pedido de amizade aceito, passei a acompanhar as intimidades de mais uma vida.
Vi que ele merece cada elogio que ouvi no passado. Que cara legal!
O problema é que eu não comentei nenhum vídeo. Não dei “like” em nenhuma foto. Ou seja, ele não tinha nem ideia de que eu era “tão amigo”. Não contei que vivi todas essas emoções. Não contei que estava ali, sempre na torcida.
Essa mistura do mundo real e do virtual/imaginário é cada vez mais comum nos dias de hoje. Nosso cérebro registra momentos que vivemos, sem nunca termos vivido. É uma loucura difícil de ser entendida por um cara da geração pré-Orkut. Algumas pessoas da geração pós-Instagram já tentaram me explicar, mas ainda não me convenci.
Hoje sei que eu, na verdade, não estava naquele show e nem naquela arquibancada. Hoje, meu amigo vai descobrir que eu estava. Não é maluco isso?
E em tempos de pandemia, de isolamento social, esse relacionamento virtual ficou ainda mais forte. Estamos muito mais próximos das pessoas que estão longe.
Átila, você pode me chamar de amigo, claro. Um amigo que nunca jogou tênis com você, nunca te chamou para ir em casa… mas está a uma mensagem de distância para o que você precisar.
1 comment
Igual a minha amiga… nunca fomos à África juntas, mas já temos sonhos concretizados e metas estabelecidas até 2083! Sim, 2083, cada uma com 110 anos de vida bem vivida!