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Lá se foi a receita do molho branco!

by Luciana Demichelli

Durante muitos anos da minha vida, pelo menos um dia da semana eu ligava para minha mãe para saber a receita do seu molho branco. Acho que meu cérebro criou uma preguiça interna para nunca decorar as quantidades certas de cada ingrediente. No fundo, nesses anos todos, minha memória me privilegiou de ouvir a tal receita direto da fonte. Do outro lado da linha, minha mãe dizia: De novo? Filha, anota porque o dia que eu morrer você não vai ter mais a receita. 

Mamãe se foi. E levou com ela o segredo do melhor molho branco do mundo. Levou também suas histórias bem contadas, sua sabedoria para aconselhar e sua letra impecável escrita com a mão esquerda. Lá se vão os bilhetinhos de amor. Foram inúmeros ao longo de nossas vidas. A letra da minha mãe tinha voz própria e sempre falava de maneira suave. Tudo era registrado. Eram bilhetes espalhados pela lancheira da escola, na mala de viagem, dentro de um livro, na tampa da marmita na universidade. Receber o tão esperado bilhetinho era sempre uma surpresa! 

Em tudo, minha mãe deixava sua marca. Do amanhecer ao anoitecer. Ela sempre nos acordava cantarolando: “Está na hora de acordar não espera mamãe chamar…” e de noite, nos abençoava em oração. Foi meu grande exemplo de força e, ao mesmo tempo, doçura. Em tudo minha mãe colocava uma pitadinha de açúcar. Mamão com açúcar, banana com canela e açúcar, alface enroladinho com açúcar… e na hora da dor, água com açúcar era um santo remédio! Fomos criados na base de uma vida doce.

Excelente companheira de filmes e séries, mamãe era capaz de ler 800 páginas de um livro em poucos dias. Além da leitura, era dinâmica também na cozinha. Cada bolinho que saia do forno vinha para aquecer nossa relação familiar. Eram horas e horas ouvindo suas histórias divertidas. Para tudo, D.Maria Olinda tinha um “causo” para contar. Em toda a minha vida, nunca vi minha mãe lamentar. Ela fazia questão de olhar o lado bom  de tudo, de todos. Atualizada, esteve sempre à frente de seu tempo. Se modernizou para acompanhar os filhos e netos. Até tatuagem ela vinha pensando em fazer, aos 80 anos de idade. Faltou pouco, faltou tempo.

Em nós, ficará para sempre a marca do seu infinito amor e o orgulho danado da família que construiu. “Aquele ali é meu filho. Aquele ali é meu neto”. Coisas de Maria Olinda, ela dizia. 

Com uma fé inabalável, minha mãe aceitou tudo o que a vida lhe ofereceu. Extremamente organizada, soube administrar as dores com maestria e, até na hora da morte, ela foi forte. Mamãe foi doce…  até seu último suspiro! 

Bença, mãe.

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