Naquela época a palavra “marketing” nem existia, mas o Zé… ah o Zé conhecia o seu significado. Ele era um excelente estrategista. Quanto maior a fila, maior a fome. O tempo revelava o capricho do Zé. Os 5 minutos que ele levava para fazer cada sanduíche, garantiam a fila de clientes, que dobrava a esquina. E assim, o povo esperava com a maior paciência do mundo.
O segredo do Zé? Um cachorro quente prensado, que só de lembrar me deixa com aquela aguinha no canto na bochecha.
O pão – que tinha uns dois palmos de comprimento – era prensado com uma espátula até ficar bem fininho e expelir nas laterais um suculento molho especial. Receita que o Zé enterrou com ele.
Era tão bom, que basta fechar os olhos para sentir o sabor da minha adolescência. Só quem esperou na fila do “Zé da Maçã” é capaz de manter esse gostinho na memória.
Aquela esquina foi testemunha de muitos segredos da minha juventude.
Ficava na virada da 9 de Julho com a Capitão José Antonio de Oliveira. Duas ruas bem conhecidas em Adamantina, no interior de São Paulo.
Ali, bem na curvinha onde as duas se cruzavam, em algumas noites da semana, os amigos se encontravam.
Em letras garrafais e mal escritas, ZÉ DA MAÇÃ, estampava um velho carrinho de cachorro quente.
Ele não tinha data certa para aparecer. Às vezes às terças… noutras, às quintas. Acho que a estratégia de marketing do Zé era surpreender todo mundo. Quando ele estava lá, os telefones fixos da cidade toda tocavam ao mesmo tempo. Um avisava o outro e, em minutos, o povo aglomerava na esquina.
E aí, patrãozinho corintiano. Quantos o senhor vai querer?
A pergunta não era O QUE? E sim, quantos.
O Zé só vendia o famoso cachorro quente prensado… e para beber, aqueles cascos de vidro de coca-cola tamanho P.
Cinco minutos era o tempo que ele levava para preparar cada sanduíche.
Ele colocava o relógio, acionava o botãozinho do despertador e era só esperar a virada dos ponteiros para o melhor cachorro quente da região ficar pronto. Nem um segundo a mais, nem a menos. Não tinha erro de cálculo. Além de marqueteiro, o Zé era doutor em matemática.
“3 sanduíches x 5 = o patrãozinho pode voltar em 15 minutos.”
O Zé era, de fato, muito bom nisso.
Todos os clientes eram tratados com a mesma gentileza. Todos eram “o patrãozinho corintiano”. E nem adiantava perder tempo em falar do seu próprio time. O Zé só tinha ouvidos para o Corinthians.
Seus olhos testemunharam muita coisa na cidade, já que além do sanduíche, a fila também servia para a paquera. Juntando os 5 minutos de cada um, as pessoas passavam horas naquela esquina.
Isso faz mais de 30 anos. O Zé, com certeza, já não está mais lá… 🥲
Mas eu prefiro acrescentar fermento para fazer crescer a minha esperança. Um dia ainda volto para Adamantina e – junto com minha adolescência – hei de encontrar o Zé e seu velho carrinho… hei de esperar pacientemente meus 5 minutos, na mesma esquina, só para saborear o melhor cachorro quente prensado da Alta Paulista… quiçá do mundo!