A oração, quando feita na língua materna, parece mexer com as raízes do nosso coração… ele se fortalece, pulsa mais acelerado. Por mais que alguém fale bem um segundo idioma, orar no próprio é quase um encontro particular com Deus. É como se a gente batesse na porta e ouvisse um “entra que está aberta”.
Luciana Demichelli
Luciana Demichelli
Luciana DeMichelli é jornalista. Trabalha em TV e Mídias digitais. Adora contar e ouvir boas histórias. Tem sempre sua "versão" de fatos e filmes.
Ainda me lembro do meu primeiro bilhetinho de amor.
Eu tinha uns 10 anos de idade.
Talvez esse fato não esteja nas memórias do Renato.
A carta foi entregue na frente do posto de gasolina.
Dizia assim: “peguei um barquinho para atravessar o oceano somente para dizer que te amo”. A promessa não durou nem as braçadas da piscina do Tênis Clube de Tupã.
Estou grávida!
A frase me atingiu em cheio. “Os filhos são nossos mestres mais do que nossos aprendizes”.
Saiu da boca de uma médica antroposófica e foi direto para minha mente.
Ficou ali, insistentemente.
Faz quase 10 anos que estou nessa missão de aprendiz.
A gente educa um filho com a intenção de fazer tudo certo, mesmo quando a gente erra.
E claro, sem querer, a gente erra.
E lá estão eles prontos para nos dar a próxima lição.
Hoje uma pergunta me intrigou: O que você deixou de ser quando cresceu?
Me lembrei da dona do zoológico… da bailarina… da vendedora de doces…
Na minha lojinha toda criança teria o direito de comer, sem pagar.
O tempo, cruel, levou esses desejos.
Já na sua versão generosa, o tempo foi capaz de armazenar outros sonhos comigo.
A morte nos pegou de surpresa.
Ela veio sem avisar.
Não se importou com a final do campeonato, com a nova série que ia estrear no domingo, com o trabalho do dia seguinte, com abraço que ficamos de dar.
A morte veio sem dó.
De uma só vez, levou jogadores, jornalistas, amigos… levou filhos e pais.
Fez doer!
Fez doer em mim, em você e em quem só viu pela tv… sem nunca ter conhecido.
Fez doer em quem teve a chance do convívio e agora sente o vazio da saudade.
Uns chamam de tragédia. Para mim é dor coletiva.
E nessa dor, eu me encaixo.
Talvez de uma maneira até egoísta, a gente vai se identificando com as pessoas, com os sonhos desfeitos, com a vida não vivida.
Essa semana o texto é muito pessoal. Resolvi abrir meu diário.
Leia em segredo. Escrevi essa carta ao meu pai, que já se foi.
Espero que esse amor incondicional chegue até você.
“Essa é uma carta com histórias contadas de filha para pai. Histórias nossas, de confissões, conselhos e segredos.
Meu pai não foi apenas um herói. Ele teve poderes maiores. Era o único homem capaz de se levantar todas as noites, sem ninguém ouvir, e cobrir com lençol os 4 filhos ao mesmo tempo.