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Tapa na cara

by Luciana Demichelli

Todo mundo quer ser perdoado por um erro, mas é sempre difícil perdoar.
Ninguém quer dar uma segunda chance, mas sempre espera a segunda chance de alguém.
Já pensou nisso?
A gente faz fofoca e não quer ninguém falando a nosso respeito. Estranhos somos nós.
Eu achava que perdoar era aceitar o erro, passar a mão na cabeça. Engano meu. Perdoar é ir muito mais além.
No dicionário, um dos significados da palavra é poupar. Talvez o mais intenso deles.
Poupar dos julgamentos, da raiva, do sofrimento.
Aliviar para o outro e para nós mesmos também.
E falo de pequenas coisas.

Outro dia uma colega acabou com a reputação de uma professora da escola.
Bastou um “é um absurdo o que ela fez” e pronto, foi lançada na fogueira das redes sociais.
Sem saber, a professora foi massacrada.
Foi a versão do filho contra o silêncio. Nenhuma palavra de defesa foi dita. Ela não teve segunda chance.
Às vezes me coloco no lugar das pessoas.
É um exercicio interessante porque quando a gente erra, a única coisa que a gente quer é o perdão. Nenhum outro verbo substitui a nobreza do perdoar.
Perdoar não é esquecer, é aceitar.
É aquela sensação de leveza no momento que o coração está mais aflito. É um sopro de paz.
Sei que errei muitas vezes e muitas outras mais… e se não fosse o perdåo, a vida seria pesada demais. Por que a gente tem tanta dificuldade em perdoar?

Dia desses fui numa palestra da Immacullée Ilibagiza, uma sobrevivente do genocídio em Ruanda, em 94. Immacullée perdeu a família inteira entre os mais de 800 mil mortos. No início da palestra uma frase bateu fundo no meu estômago. Ela disse: “eu hoje abraço os inimigos, pois é a única maneira de provocar uma mudança no mundo”. Foi como um tapa na minha cara. Eu guardando pequenas mágoas e ela capaz de perdoar os assassinos da sua família.
Immacullée perdoou quem mais a fez sofrer. E eu? Eu peço perdão pela minha ignorância de desconhecer tamanha grandeza.

Rapidamente, vou perdoando quem me feriu. E aqueles a quem feri, aos poucos, peço perdão!

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