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A oração, quando feita na língua materna, parece mexer com as raízes do nosso coração… ele se fortalece, pulsa mais acelerado. Por mais que alguém fale bem um segundo idioma, orar no próprio é quase um encontro particular com Deus. É como se a gente batesse na porta e ouvisse um “entra que está aberta”.
E foi assim… com sotaque do norte e sotaque do sul, vozes de todo o Brasil se misturaram na pequena igreja, da pequena cidade onde eu vivo, a quilômetros e quilômetros da terra onde eu nasci.
Era como se aquela celebração fosse feita especialmente para mim, para minha amiga ao lado, para o meu vizinho sentado no banco de trás da igreja, para cada um dos 441 brasileiros que estavam ali. Esse “1” precisa ser contado, não como número, mas como conquista.
Pela primeira vez uma missa foi celebrada em Português na cidade onde eu moro, nos Estados Unidos. A comunidade se uniu e o padre, peruano – em menos de 6 meses – aprendeu o novo idioma.
Era como se o tempo voltasse em 30, 40 anos. De repente me senti ao lado de meus pais na igreja matriz no interior do Brasil. Talvez em Tupã, em Adamantina… Nem o sotaque do padre me fazia voltar. Eu chorei. A igreja chorou comigo nos primeiros acordes de velhas canções. Músicas que fizeram parte da minha infância, cantoria que trouxe para perto nossa família tão distante de nós.
Era como se igreja nos abraçasse. Em outro país, na nossa língua nativa, entre o barulho das palmas e o escorrer das lágrimas, acho que Deus conseguiu nos ouvir. Estávamos todos no mesmo compasso, no mesmo passo, na mesma vida de imigrante. É difícil explicar o sentimento quando a oração não é subordinada. De mãos dadas agradecemos o pão de cada dia e saboreamos a liberdade de poder expressar a nossa crença, em voz alta, em nosso idioma, em um outro cantinho do mundo. Não é preciso muito, apenas simplicidade para poder entender.
Eis o mistério da Fé!